Upington Airport: o aeroporto que tem maior pista da África e que virou cemitério de MD-80s da Alitalia

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Aqui no ONTIME Aviation nós já conhecemos juntos vários aeroportos diferentes, como o de Kiwirok na Indonésia, que tem uma curva na pista, o da Ilha de Saba, que é o menor do mundo, e também o da lha de Christmas, no Austrália. Agora nós vamos lá para a África do Sul conhecer o Aeroporto da cidade de Upington, onde está localizada a maior pista do continente africano!

Aeroporto de Upington (UTN/FAUP)

Situado na cidade sul-africana de Upington, que está a cerca 800km de Johanesburgo e possui 70 mil habitantes, o Upington International Airport é um tranquilo aeroporto que recebe em média 3 voos regulares ao dia da companhia aérea Airlink. São ligações para a Cidade do Cabo e também para ‘Joburg’, efetuadas com o Embraer 135 da companhia. Costumam passar anualmente por UTN uma média de 65 mil passageiros.

O aeroporto conta com três pistas, uma imensa, uma média e a outra, digamos, que seria uma “mini pista”. Vamos começar pela menor delas, que é a 08/26 com 834 metros de comprimento por 30m de largura. Seguimos com a média (01/19), que já tem um comprimento considerável de 2438m por 46m de largura. Por fim, com seus longos 4900 metros de comprimento e 60m de largura, temos a maior delas: a 17/35.

O Aeroporto de Upington tem não só a maior pista da África do Sul, mas também de toda a África e é a quarta mais longa do mundo, atrás do Aeroporto Shigatse Peace, na China; Aeroporto Ulyanovsk, na Rússia, e o de Gavião Peixoto, aqui do Brasil. A pergunta que todos devem estar se fazendo é: por que uma pista tão longa para um aeroporto pouco movimentado, onde a maior aeronave que pousa por lá com frequência é o Embraer 135?

Para responder essa pergunta, vamos voltar lá para o início do século 20, quando entende-se que o Aeroporto Pierre van Ryneveld foi inaugurado com uma pista de grama ao lado de onde hoje funciona uma unidade do Exército da África do Sul chamada de 8SA Infantry Battalion. Muitos anos depois, em 1968, o aeroporto passou por reformas e renovações, incluindo um deck com vista para o pátio, onde famílias se reuniam aos finais de semana.

Com a independência da Angola em 1975, a África do Sul perdeu os direitos de pouso em Luanda, onde a South African Airways realizava paradas técnicas de reabastecimento em suas linhas com destinos para a Europa. Naquele período o país sofria sanções de outras nações por conta do Apartheid e as aeronaves sul-africanas eram restritas de pousarem em certos países ou sobrevoarem determinados espaços aéreos.

Temendo perder autorizações de pouso para fazer escala na Costa do Marfim e também em Cabo Verde, a África do Sul buscava uma solução para continuar a operação dos voos da South African Airways para a Europa e durante um período utilizou o Aeroporto de Windhoek, na Namíbia. Posteriormente surgiu a ideia de melhorias no Aeroporto de Upington. Ele foi o escolhido por alguns motivos: sua posição geográfica, disponibilidade de terreno para ampliação e por estar a 851m acima do nível do mar, proporcionando um melhor desempenho na performance das aeronaves, quando comparado, por exemplo, com Johanesburgo que está a 1694m acima do nível do mar. Dentre as melhorias, uma pista capaz de comportar grandes jatos, como o Boeing 747, estava nos planos.

A imensa pista 17/35 foi construída em tempo recorde! As obras foram iniciadas em janeiro de 1976 e concluídas em julho daquele mesmo ano. No mês seguinte, em agosto, a South African Airways já estava pousando na longa pista com os seus Boeing 747, que usavam Upington como escala de reabastecimento nos voos de Johanesburgo para Londres e Zurique. A companhia realizou esse modelo de operação até o final do ano de 1982.

Maddogs da Alitalia

Muitos anos depois, o Aeroporto de Upington ganhou uma nova função: cemitério de aeronaves. O motivo? Ele está localizado em uma região de clima semiárido, próxima do conhecido deserto do Kalahari, e essa é uma condição ideal para a preservação de aeronaves, que estão estocadas ou armazenadas.

O fato inusitado é que ele virou cemitério de diversos MD-80s da companhia aérea italiana Alitalia, que ao invés de irem para aeroportos de armazenamento na Europa, como por exemplo Tarbes, na França, ou Teruel, na Espanha, os aviões italianos cruzaram todo o continente africano e foram parar em Upington. Mas tem um resposta para isso!

A Alitalia estava se desfazendo da sua frota de MD-80s e a empresa sul-africana Safair, que é especializada em leasing de aeronaves e é uma subsidiária do ASL Group Aviation, se interessou em alguns Maddogs (apelido do MD-80) da Alitalia.

Um total de 25 MD-80s ‘italianos’ voaram da Europa até o Aeroporto de Upington entre os anos de 2008 e 2010 para ficarem armazenados e disponíveis caso alguma companhia aérea se interessasse em arrendar os aviões. Nem todos os MD-80s estavam sob leasing da Safair. Apareceram algumas interessadas, como a low-cost sul-africana 1Time, que na época contava com várias aeronaves do modelo em sua frota, dois deles inclusive já arrendados da Safair, mas que não faziam parte da turma ex-Alitalia. No fim, a 1Time não veio a operar nenhum deles.

Três Maddogs, que estavam estocados em UTN, foram trasladados até a Venezuela e ganharam uma nova vida na Aeropostal. Outros quatro voaram até o Caribe para sua nova casa em Curaçao, onde operaram pela Insel Air, mais dois foram voar no Quênia pela African Express, sendo que um deles continua ativo até hoje como 5Y-AXL, um outro chegou a ser negociado pela Bulgarian Air Charter, mas não foi entregue e o restante jamais saiu de lá.

O tempo foi passando e o interesse nas aeronaves foi diminuindo e os jatos, agora já não mais tão italianos, foram aos poucos sendo desmontados e vendidos como sucata para o ferro velho. Até o ano de 2015, os MDs foram mantidos sob os cuidados da equipe da empresa Nevergreen Aircraft Industries, que preparou os que foram voar em outras empresas e realizou o desmanche da maioria dos restantes. Hoje, mais de 10 anos depois, ainda existem cinco MD-80s com as cores básicas da companhia italiana estacionados lá em Upington. Confira a tabela com o status de cada um deles:

Outras curiosidades de UTN

Não foram só os MD-80s que chegaram a ser estocados no Aeroporto de Upington. Alguns Boeing 727s da Transafrik International também ficaram armazenados durante anos por lá, mas hoje não resta mais nenhum, todos foram desmontados.

Voltando a falar da imensa pista 17/35, depois que os Boeing 747 da South African Airways deixaram de operar por lá em 1982, outros “Jumbos” já tocaram os 4900m de asfalto do Aeroporto de Upington. A Atlas Air, CargoLux, Rayyan Air (não confunda com a Ryanair) e outras empresas, também já utilizaram o Boeing 747 em voos cargueiros para UTN. Veja as fotos abaixo:

Há várias menções de que por conta do comprimento da pista 17/35, o Aeroporto de Upington no passado serviu como um aeroporto alternativo caso o Ônibus Espacial necessitasse realizar um pouso de emergência, no entanto há contrapontos dizendo que, na verdade, o Aeroporto de Hoedspruit, também localizado na África do Sul, constava como aeroporto de alternativa nos documentos da NASA.

Para finalizar a nossa passagem por este aeroporto tão único, trago aqui uma última curiosidade: em 1976, ninguém mais ninguém menos que o Concorde pousou no Aeroporto de Upington para a realização de testes.

Você conhecia o Aeroporto de Upington? Nos vemos em um próximo artigo por aí! Confira outros já publicados:

Links utilizados para pesquisa:

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