Voo AF447 da Air France: saiba como o acidente teve impacto em melhoria da segurança aérea

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Era noite de domingo, 31 de maio de 2009, quando o Airbus A330-200 de matrícula F-GZCP da Air France desaparecera dos radares pouco mais de três horas e meia após decolar do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, a caminho de Paris. Com o passar dos dias, fora confirmado que a aeronave havia caído no Oceano Atlântico, causando a morte de 228 pessoas. O caso voltou à tona na manhã da última segunda-feira (10), quando entidades francesas deram início ao julgamento da Airbus e da própria Air France – ambas envolvidas no ocorrido – trazendo consigo alguns questionamentos a respeito da segurança aérea no mundo.

Julgamento

O julgamento sobre o caso do Air France 447 foi iniciado nesta semana, 13 anos após o acontecimento. Os chefes da Airbus e da Air France se declararam inocentes após a leitura do nome de todas as vítimas e também trocaram acusações. A Airbus culpa a falta de preparo dos pilotos pelo acidente, enquanto a Air France alega que o excesso de alarmes e dados confusos sobrecarregaram os profissionais. 

Advogados alertaram para que o julgamento não fique focado apenas em uma “briga” entre as empresas e que também não deixe de lado os parentes das 228 vítimas.

“É um julgamento em que as vítimas devem permanecer no centro do debate. Não queremos que a Airbus ou a Air France transformem este julgamento em uma conferência de engenheiros”

Sebastien Busy, um dos advogados presentes no julgamento

Ambas as empresas estão sendo julgadas por “homicídio involuntário”. Os parentes buscam também novos acordos extrajudiciais envolvendo maiores indenizações, embora o valor total não tenha sido divulgado. 

O julgamento segue em andamento e nós atualizaremos o caso através desta matéria. O fato é que o caso do AF447 trouxe uma revolução na aviação.

Segundo uma recente entrevista concedida por especialistas e profissionais da aviação para o jornal francês La Croix, o drama do Rio-Paris elevou a segurança aérea a um nível excepcional. Eles afirmam, ainda, que foram poucos acidentes como o caso do AF447 que provocaram uma revolução tão grande (e necessária) no setor aéreo, principalmente em relação aos procedimentos de segurança que vão desde melhorias na qualidade do material utilizado nas aeronaves até procedimentos e a formação dos pilotos.

Confira, abaixo, as principais mudanças no setor aéreo após o incidente com o voo AF447, da Air France:

Tubos de Pitot
Os Tubos de Pitot são sondas que medem a pressão dinâmica e estática, fornecendo assim informações aos pilotos como velocidade, altitude e velocidade vertical. O Airbus A330 é equipado com três Tubos de Pitot e naquela noite os três sofreram um “entupimento” com cristais de gelo, enquanto o voo 447 voava sob uma condição atmosférica considerada rara. Por estarem obstruídos, as informações enviadas para a cabine eram incoerentes, o que acabou gerando uma série de atitudes e confusões que culminaram na fatalidade.

A fabricante do Tubo de Pitot já havia alertado sobre uma possível condição de entupimento da sonda em situações raras. A Air France já vinha substituindo o modelo dos medidores, mas o Airbus A330 F-GZCP ainda estava equipado com a versão anterior e como mencionamos, ingressou nesta condição atmosférica considerada rara. Meses após o acidente, a aérea francesa concluiu a substituição dos tubos de pitot em todas aeronaves recomendadas.

Hoje, um sistema de emergência de avaliação da velocidade que não depende de captores existe na maioria dos aviões, de acordo com o consultor de aeronáutica Xavier Tytelman, entrevistado pelo jornal La Croix. Além disso, algumas aeronaves passaram a contar também com captores de velocidade nos motores e as sondas usadas devem ser produzidas por diferentes fabricantes.

Treinamento de pilotos
A formação e o treinamento dos pilotos também foram profundamente revisados. As sessões de simulação de voo colocam os pilotos em situações praticamente impossíveis e imprevistas pelos fabricantes da aeronave. Os comandantes a bordo do 447 jamais haviam passado por um treinamento simulando uma situação semelhante ao do acontecimento, tendo que pilotar o avião “na mão” em alta altitude e com falhas nos indicadores. Uma das recomendações foi justamente a de adicionar o treinamento aos pilotos de voarem a aeronave de forma manual em altitudes de cruzeiro, ou seja, sem o auxílio do piloto automático.

Recomendou-se à Air France em seus treinamentos, o reforço também do CRM (Crew Resource Management) relacionado com implicações de fadiga durante as tomadas de decisão.

Definir com clareza as funções do piloto que vai assumir o posto do comandante na hora que ele for descansar é mais uma das recomendações. Naquela noite, esse foi um dos fatores contribuintes. Uma melhora no gerenciamento das tarefas e comunicação na cabine também foi enfatizada no relatório.

Questões como a implementação de planos de salvamento entre Brasil e Senegal e também a obrigatoriedade do CPDLC, que é um sistema para comunicação por mensagens entre os pilotos e os controladores, especialmente utilizado durante voos sobre o oceano, estão na extensa lista de recomendações.

Independentemente da sentença do julgamento do voo AF447, que seguirá até o dia 8 de dezembro, faz-se necessário lembrar que o incidente teve um impacto importante na melhoria da segurança aérea no mundo.

Links de pesquisa:

Aviões e Músicas

The Aviation Herald

Gustavo Carvalho

3 Replies to “Voo AF447 da Air France: saiba como o acidente teve impacto em melhoria da segurança aérea”

  1. Parabéns pela materia, esse acidente sempre me causou e causa frustraçoes de como isso aconteceu. Quando vejo os vídeos eu fico impressionado, como um tripulação conseguiu deixar uma aeronave de ultima geração cai de barriga no oceano sem perceber a queda em nenhum momento.

    Mas essas mortes não foram em vão, como nenhum na aviação é.
    Obrigado por trazer esse tema importante e que nunca esqueçamos dessa tragédia.

    Um abraço

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