Depois de conhecermos o Aeroporto de Saba, nós agora iremos voar juntos com um aventureiro australiano: Sir Charles Kingsford Smith, apelidado de “Smithy” e considerado um dos pilotos mais ousados da história.
Carreira militar e nos cinemas
Nascido na cidade de Brisbane em fevereiro de 1897, ele foi educado em Vancouver, durante o período em que viveu no Canadá com sua família e posteriormente, em Sydney, quando regressou para a Austrália, em 1907. Ao completar seus 18 anos, ‘Smithy’ se alistou à Primeira Força Imperial Australiana (1st AIF), que havia sido formada em 1914 seguindo a declaração da Grã Bretanha de guerra contra a Alemanha. Anos mais tarde, em 1921, a AIF se tornou a Royal Australian Air Force.
Charles serviu no Egito, Turquia e França como mensageiro militar e sapador antes de ser transferido para a Australian Flying Corps. Em 1917 ele completou o treinamento para atuar como piloto e não demorou muito para suas habilidades de voo serem reconhecidas. Em seu primeiro mês, ele derrubou quatro aeronaves inimigas. Ele chegou a ser ferido e abatido durante um combate, mas isso não o impediu de continuar como piloto e ser premiado como Military Cross por conta de sua dedicação ao trabalho e valentia. Posteriormente ele se tornou instrutor de voo.
Quando a Primeira Guerra Mundial terminou, “Smithy” tentou participar de uma competição aérea na Inglaterra, mas não conseguiu permissão. Ele então se mudou para os Estados Unidos onde continuou voando, mas agora em Hollywood, participando de filmes como piloto de acrobacia.
De volta à Austrália
Em 1921, Charles voltou ao seu país natal e antes de ingressar em sua primeira linha aérea, a Western Australian Airways, ele realizou voos de lazer e fez parte de um time de acrobacias. Enquanto trabalhava pela companhia, Smith começou a pensar em um plano bastante fora da caixa e ousado para aquela época: cruzar o Oceano Pacífico em um avião. Após conseguir juntar o dinheiro que precisava, “Smithy” comprou duas aeronaves Bristol.
Em Sydney, Kingsford Smith conheceu Charles Ulm, um piloto que também tinha experiências em negócios e juntos eles fizeram um voo pela Austrália em 10.5 dias. Posteriormente, ambos foram aos Estados Unidos em busca da aeronave ideal para a aventura pelo Pacífico que eles estavam desenvolvendo. Eles adquiriram um Fokker de um outro piloto australiano, Sir Hubert Wilkins, que era conhecido por realizar voos no Ártico, e batizaram sua nova aeronave de “Southern Cross“.
Aventuras e recordes
No dia 31 de maio de 1928, Smith e Ulm, juntos com Harry Lyon e J. Warner, dois americanos que vieram para completar a tripulação e eram responsáveis pela navegação e contato de rádio respectivamente, iniciaram o primeiro voo transpacífico. O quarteto partiu de Oakland na Califórnia e cumpriu um primeiro trajeto até Honolulu, no Havaí. Depois, os quatro voaram até Suva, nas ilhas Fiji, em um voo de 33 horas sobre o Oceano Pacífico em condições hoje jamais imaginadas: sem auxílios para navegação, sem rádio e sem nenhum aeroporto de alternativa caso precisassem pousar por conta de algum imprevisto ou problema com a aeronave. O último trecho foi entre as Ilhas Fiji e Brisbane, na Austrália, onde pousaram em segurança, no dia 08 de junho.
Kingsford Smith se tornou um herói em seu país natal e junto com seu companheiro Charles Ulm a bordo do “Southern Cross” bateram mais recordes, como um voo em que eles cruzaram todo o território australiano sem realizar escalas e outros trajetos pela tempestuosa ilha da Tasmânia e também para a Nova Zelândia.
Em 1929, os aventureiros deram sequência nos planos de dar a volta ao mundo em seu Fokker, mas eles foram obrigados a realizar um pouso não programado no noroeste da Austrália por conta de fortes tempestades e foram considerados desaparecidos. O caso atraiu a atenção do público e eles receberam acusações de que teriam ‘falsificado’ o desaparecimento como forma de se promoverem. Um ‘inquérito’ foi aberto e ambos foram exonerados pelo público. O fato não os impediu de decolarem novamente em junho e realizarem o trajeto entre a Austrália e a Inglaterra em 12 dias e 18 horas. Um ano depois, a dupla completou a volta ao mundo após cruzarem o Atlântico em um voo partindo da Irlanda para Nova Iorque e finalizando na Califórnia.
Os feitos não acabariam por aí! Em um voo agora solo, “Smithy” quebrou seu próprio recorde e realizou o trajeto da cidade australiana Darwin até o Reino Unido em 9 dias e 22 horas.
Empresa aérea e “o último voo”
Juntos novamente, Smith e Ulm fundaram a Australian National Airways (ANA), empresa aérea focada em voos entre cidades do sudeste australiano. O negócio não deu certo! Os problemas causados pela Crise de 1929 e um acidente com uma das aeronaves da empresa que desapareceu em uma região montanhosa com 8 passageiros enterraram a novata ‘ANA’. Eles tentaram abrir uma outra companhia aérea para realizar voos na região da Tasmânia, mas o governo australiano não autorizou o funcionamento.
“Smithy” então retomou os seus voos peculiares e em outubro de 1934 ele e o aviador P. G. Taylor voaram da Austrália até os Estados Unidos a bordo de um Lockheed Altair. O feito não gerou nenhuma oportunidade financeira. Desapontado, em novembro de 1935, Smith decidiu tentar quebrar novamente o recorde do voo entre o Reino Unido e a Austrália. Ele decolou para realizar o feito, mas em um dos trajetos desapareceu na Baía de Bengala, que está localizada ali na região da Índia, Myanmar, Sri Lanka, Tailândia, Indonésia e Malásia.
Minucioso em seus planejamentos de voo, o herói australiano terminou sua vida assim, voando, se aventurando e desapareceu sem deixar rastros.
Homenagens
Você que chegou até aqui pode observar o quão marcante Sir Chares Kingsford Smith foi para a aviação, principalmente na Oceania. “Smithy” recebeu diversas homenagens por suas aventuras e ousadias. A empresa aérea australiana Alliance Airlines, por exemplo, tem duas pinturas especiais nos seus Fokker 100s:
- VH-UQG: recebeu o nome de “Southern Cross Minor” e uma pintura especial homenageando o Fokker utilizado nas missões de Charles e Ulm.
- VH-FGB: pintura comemorativa dos 90 anos do primeiro voo transpacífico
Em 1997, Charles ganhou outra homenagem, celebrando os 100 anos de seu nascimento: seu rosto e sua aeronave na moeda de 1 dólar australiano. A moeda não está mais em circulação.
O Aeroporto Internacional de Sydney, que é o maior e mais movimentado da Oceania, leva o nome de Aeroporto Internacional Kingsford Smith, também homenageando o aviador que fez história por onde voou.
Você conhecia a história do Charles Kingsford Smith?
Links utilizados nas pesquisas:
Sir Charles Kingsford Smith – The Australian Museum
One Reply to “Sir Charles Kingsford Smith: um aviador, aventureiro e pioneiro”